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  • Categoria: Operacional
  • Data: 22/12/2020

A tomada de posse do novo Comandante foi o momento mais marcante das comemorações do 63º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ansião, assinaladas a 20 de dezembro.
Numa cerimónia bastante diferente do habitual, em função do estado de pandemia, marcaram presença apenas os bombeiros promovidos e condecorados, os órgãos dirigentes da AHBVA, o presidente da Câmara Municipal, o Comandante Distrital da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, o presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Leiria e os órgãos de comunicação social local.
A comemoração teve lugar na parada, ao ar livre e com todas as regras e distâncias de segurança garantidas, tendo início com o hastear de bandeira, seguindo-se uma breve cerimónia que incluiu promoções, condecorações e a tomada de posse do novo Comandante.

NEVES MARQUES
NO QUADRO DE HONRA
António Neves Marques, que já há algum tempo a esta parte vinha dando sinais de que não pretendia continuar no Comando, sobretudo nas suas intervenções públicas onde sempre foi particularmente incisivo nas críticas à forma como o Estado trata os bombeiros, deixou o cargo que ocupou nos últimos 15 anos. Com 43 anos já dedicados aos bombeiros, os últimos 25 no quadro de Comando, Neves Marques foi desta feita irredutível.
Marques não quis agora voltar a ser a “habitual voz incómoda” e na despedida do posto (e não dos bombeiros, uma vez que vai integrar o Quadro de Honra) preferiu agradecer a colaboração de todos quantos consigo trabalharam ao longo destes anos. Lamentando não os ter todos presentes naquele momento, Neves Marques referiu que “os Bombeiros de Ansião foram e sempre serão o meu maior orgulho”.
Dirigindo-se ao seu sucessor, José Antunes, o comandante cessante disse reconhecer-lhe “todas as capacidades para o cargo”. “Este é o primeiro dia do resto da tua vida”, afirmou, acrescentando que “agora nada vai ser como dantes” mas disponibilizando-se para o que for necessário: “podes contar comigo”!
Rui Rocha, presidente da AHBVA referiu que a direção tentou, por diversas vezes, demover Neves Marques da sua decisão, pois entendia que “continuava a reunir todas as condições para cumprir mais uma comissão de serviço de 5 anos, como era nossa pretensão”. Todavia, tal não foi possível e a direção “compreendeu as razões que apresentou para que fosse este o momento escolhido para cessar funções”.
O dirigente disse que foi “um enorme gosto e privilégio partilhar consigo este tempo” e que Neves Marques “vai figurar como um dos exemplos maiores de dedicação, entrega, competência, profissionalismo e humanismo aos Bombeiros de Ansião e de Portugal”, prometendo, “no momento oportuno e no local certo, reconhecer devidamente esta postura”.
JOSÉ ANTUNES
COMANDANTE
“Não foi preciso muito tempo para chegarmos, unanimemente, à decisão de convidar o adjunto José Salvador Antunes para as funções de Comandante da Corporação”, referiu Rui Rocha. “Reúne um conjunto diverso de requisitos que nos parecem os necessários para enfrentar os desafios que se apresentam”, adiantou, enaltecendo os seus “já 35 anos de amor incondicional aos Bombeiros de Ansião”.
“Para além da sua competência, experiência, saber e profissionalismo, é para nós uma enorme vantagem ter a possibilidade de associar essas características ao facto de poder exercer a sua função, a tempo inteiro, atendendo à sua condição de colaborador da Associação”, explicou Rui Rocha.

15 NOVOS BOMBEIROS, PROMOÇÕES E CONDECORAÇÕES
Num dia que é sempre de festa para os bombeiros, este foi ainda mais especial para 15 estagiários que conseguiram finalmente integrar a corporação como Bombeiros de 3ª classe, tendo prestado juramento. Ouviram palavras de encorajamento e estímulo de todos os intervenientes para esta nova etapa do seu voluntariado.
Foram igualmente promovidos cinco bombeiros à 1ª classe. No que diz respeito a condecorações, 3 operacionais receberam a medalha de dedicação de 25 anos, um recebeu a medalha de 20 anos – ouro, e outro de 15 anos – ouro. Seis bombeiros receberam a medalha de 5 anos – cobre.
Sérgio Curado foi este ano o bombeiro a quem foi atribuído o prémio Dedicação e Mérito, instituído pelo Comando. [ver todos os condecorados e promovidos na pág. 24 desta edição].

Estímulos e um louvor vindos de Leiria
Almeida Lopes, da Federação de Bombeiros, destacou o trabalho efetuado por Neves Marques e desejou a melhor sorte a José Antunes. Deixou ainda alguns desabafos na defesa dos bombeiros, que considerou serem “o pilar do socorro em Portugal”, eles que “não podem socorrer as pessoas em modo de tele-trabalho”.
Já Carlos Guerra deixou palavras de alento ao novo comandante e de agradecimento ao cessante. O comandante Distrital da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil disse mesmo que “mais importante do que agradecer é reconhecer” e por isso a estrutura que representa atribuiu a Neves Marques a Medalha de Mérito de Proteção e Socorro – Grau Cobre.
Associação Humanitária com quebra de receita na ordem dos 100 mil euros
Este foi um ano muito difícil para a Associação Humanitária. Rui Rocha, que já dirige a instituição há 14 anos e foi reeleito no passado mês de outubro, disso mesmo deu conta no seu discurso.
Rocha sinalizou “a injustiça e falta de atenção de algumas das entidades competentes sobre a incidência desta pandemia nas Associações Humanitárias” e falou numa quebra de receita na ordem dos 100 mil euros em relação a 2019, estimando menos 75 mil euros no transporte de doentes e custos adicionais de cerca de 25 mil euros com a utilização de equipamentos de proteção individual.
O dirigente entende que este é um tempo onde “temos que tratar de forma diferente o que é mesmo diferente e portanto, respeitando todas as coletividades e outras instituições do concelho e do País, não restam dúvidas da importância das Corporações de Bombeiros e da sua ação relevante para garantir um conjunto de tarefas que são da responsabilidade de quem nos governa”.
E nesse particular, queixou-se da demora no subsídio extraordinário por parte da ANEPC, cerca de 14 mil euros, no âmbito da aprovação do Orçamento Suplementar de 2020.
Em contrapartida, agradeceu a colaboração do Município de Ansião que já atribuiu dois subsídios extraordinários que totalizaram 20 mil euros e recente donativo de 10 mil euros da empresa Lusosicó, que considerou um “generoso gesto de responsabilidade social, num ano em que as empresas vivem dificuldades acrescidas”.
O presidente da AHBVA disse que são ações como estas “que nos renovam o alento para não baixarmos os braços e continuarmos a nossa nobre missão”.
Ainda relativamente à pandemia, o dirigente confirmou que já foram registados alguns casos positivos na nossa Associação, mas que “foi possível reagir de imediato e conter a sua transmissão, não tendo, até ao momento, condicionado significativamente a nossa disponibilidade”.

AUTARQUIA APOIA
Finalmente, as últimas palavras foram do presidente da Câmara. António José Domingues destacou a importância dos 63 anos de história da Associação Humanitária, que tem “desempenhado um papel de relevo na defesa das populações”.
Disse que a autarquia tem sabido reconhecer isso mesmo, apoiando sempre que necessário como ainda neste ano atípico. O autarca disse que “é nas dificuldades que vêm as verdadeiras ações”, elogiando os bombeiros que, juntamente com outros grupos profissionais, estão na linha da frente no combate à pandemia.
António José Domingues destacou os bons exemplos que existem no seio da corporação. De Neves Marques disse que “nasceu para ser bombeiro” deixando uma “liderança bem marcada”, para José Antunes vaticinou o sucesso do seu antecessor, fazendo eco das suas capacidades para o cargo. E finalmente, elogiou Ana Rocha, naquele dia promovida a bombeiro de 1ª classe e “recrutada” pela autarquia para o cargo de Coordenadora Municipal de Proteção Civil.
«Tentarei estar perto daquilo que o comandante Neves Marques foi e deu aos bombeiros de Ansião»
José Salvador Antunes atinge, aos 46 anos de idade, o posto de Comandante dos Bombeiros Voluntários de Ansião. Apesar de ainda jovem, dispõe de uma bagagem imensa no que diz respeito ao socorro, granjeada ao longo dos 35 anos que já leva de dedicação aos bombeiros. Durante todo este tempo privou com 4 comandantes e de todos recolheu ensinamentos. Colecionou formação e distinções que o colocaram num patamar que tornou “fácil e lógica” a sua escolha pela direção da AHBVA.

HORIZONTE esteve à conversa com o recém empossado comandante, num registo que transcrevemos em discurso direto:

HORIZONTE - Quais as sensações de chegar a comandante dos Bombeiros de Ansião?
JOSÉ ANTUNES - Chegar ao mais alto de cargo de responsabilidade operacional num corpo de bombeiros como o de Ansião, traz-me um misto de emoções, como penso que aconteceria com qualquer bombeiro que tenha a paixão à causa e os anos vividos, sempre com presença assídua, que no meu caso já vem desde os 11 anos de vida. Um misto de orgulho em representar esta nobre corporação, de felicidade por poder contar com um corpo de bombeiros de excelência construído pelos meus antecessores, de algum receio pelos tempos difíceis em que vivemos e que certamente ainda iremos ter pela frente. Mas acima de tudo de uma enorme motivação e energia para fazer e deixar esta corporação ainda melhor, mais bem preparada e motivada para os que me sucederem.

H - O que representa para o José Antunes suceder a um comandante como Neves Marques? Que valores apreendeu ao longo destes anos sob o seu comando?
JA - Suceder ao comandante cessante Neves Marques, deixa-me pessoalmente num patamar de elevada exigência. Tenho no entanto a honra de poder continuar a contar com a sua presença diária, com o seu conhecimento, o seu rigor, a defesa acérrima dos seus bombeiros e dos bombeiros portugueses no geral. Certamente que com seus ensinamentos, tentarei pelo menos também eu um dia, estar perto daquilo que o comandante Neves Marques foi e deu ao corpo de bombeiros de Ansião e a Portugal.

H - Que mensagem deixa para o seu corpo de bombeiros e também para a Direção da AHBVA?
JA - Já tive a oportunidade de transmitir a todo o corpo ativo numa reunião promovida no passado dia 31 de outubro pela direção da associação, os principais objetivos e prioridades da minha equipa de comando. Objetivos esses que passarão sempre por conseguir mais e melhores condições para todos os operacionais sem exceção, seja a nível operacional seja a nível formativo, de condições de permanência nas instalações 24 horas, 356 dias por ano, mas acima de tudo para que se sintam motivados, felizes, valorizados e acarinhados por todos.
À direção o que também eles já sabem e que podem esperar de nós: frontalidade, exigência na defesa dos nossos operacionais, companheirismo e principalmente lealdade para com todos eles e para com a missão que nos delegaram. Ou seja, continuidade nas boas relações que vêm perdurando desde 2005, altura em que o presidente Dr. Rui Rocha e os seus colegas diretores assumiram funções pela primeira vez.

H - E os ansianenses, o que podem esperar do seu corpo de bombeiros?
JA - Podem as populações do nosso território e todos os que por cá passem ou nos visitem, ficar tranquilos e continuar a depositar confiança nos Bombeiros Voluntários de Ansião.
Ao longo destes 63 anos temos mantido bem vivo o lema: Vida por Vida, temos sabido sempre acompanhar as mudanças, os novos tempos, os novos perigos. Para isso os operacionais dedicam muito de si na busca de novos conhecimentos, de formação e de mais e melhores equipamentos para que no regresso de uma qualquer ocorrência possamos dizer: “Missão Cumprida!”
PERFIL JOSÉ ANTUNES
José Salvador Antunes ingressou nos BVA como Infante em 1986 e foi promovido sucessivamente a Cadete (1989), Aspirante (1992), Bombeiro de 3ª (1992), Bombeiro de 2ª (1997), Bombeiro de 1ª (2001), Subchefe (2005), Adjunto Comando (2006), Oficial Bombeiro 1ª (2013), Adjunto de Comando (2019) e Comandante (2020).
Entre os vários louvores e condecorações, destaque para as medalhas de assiduidade (cobre, prata e ouro), louvor por dedicação e abnegação (2004) e prémio mérito e dedicação (2017).
Da sua vasta formação fazem parte os cursos de socorrismo, adaptação a ambulâncias, salvamento e desencarceramento, tripulante de ambulância de transporte e de socorro, salvamento em grande ângulo, chefe de equipa de combate a incêndios florestais, práticas de combate a incêndios, competências socioprofissionais, organização inicial teatro operações, desfibrilhação automática externa, treino operacional incêndios florestais nível II – EPCo, organização jurídica e administrativa, gestão operacional I – incêndios urbanos e industriais, gestão operacional II – combate a incêndios florestais e gestão operacional III – matérias perigosas – acidentes multivítimas.
Fonte: [J.Horizonte]